No mundinho do diz-que-diz de Brasília a fama das viagens vespertinas da chalana, quando singra as águas do Lago Paranoá com passageiros severamente selecionados e recomendados, dispensa o afrancesado “Champagne” e abraça o pragmático anglicismo do apelido “Love Boat”. Sim: ali o amor está sempre a bordo.
A Champagne pertence ao senador Wilder Morais (PP-GO) e ele a empresta, não raras vezes, a colegas de Senado para que naveguem pela orla brasiliense, entre os lagos Sul e Norte. Também gosta de dar ali pequenas e concorridas festas flutuantes. Na noite da terça-feira, 7 de fevereiro, a chalana sediou um convescote emblemático.
Enquanto o eclético grupo trocava talheres e tintins embarcados na suíte flutuante de Morais a barbárie tomava conta das ruas de Vitória (ES) e cenário semelhante se armava no Rio de Janeiro, no Recife e na própria Brasília. Em todas essas cidades policiais civis e militares ameaçam greves iguais àquela que desenha uma rotina infernal para os capixabas. Claro estava que o assunto não seria abordado – afinal, Alexandre Moraes ausentara-se do posto a fim de implorar apoios. Respostas não haveria àquilo que deveria torturá-lo como uma marca na biografia.
Segundo relatos, o senador alagoano Benedito de Lira quis saber se, uma vez ministro do Supremo, Alexandre de Moraes iria esnobar parlamentares como outros já fazem na Corte, recebendo-os protocolarmente no Salão Branco, ou se daria a detentores de foro privilegiado a atenção que uma audiência reservada mereceria. A curiosidade de Benedito de Lira foi satisfeita com uma resposta que o agradou. Houve alívio a bordo.
Em menos de duas semanas os passageiros daquela noitada do “Love Boat” sentarão na Comissão de Constituição e Justiça do Senado para sabatinar Alexandre de Moraes. É o que reza a Constituição. Não estarão mais presentes nem as massas, nem os vinhos nem os figos secos servidos. Caso sobreviva à sabatina como sobreviveu lépido e faceiro ao jantar, Moraes deverá ter o nome aprovado para ocupar a vaga de Zavascki no Supremo Tribunal Federal.
Postar um comentário