A mesa de cadeiras de plástico, emolduradas por uma desbotada cortina bordô, destoava de cenários que marcaram até o ano passado uma tradição petista: a de festejar mesmo em tempos de crise.
Sob ameaça de retenção do Fundo Partidário e pagando multas milionárias à Justiça Eleitoral (em 2015 foi aplicada uma de R$ 4,9 milhões), o PT nacional caiu na real, sabendo que o fim está próximo e rompeu com o costume que rendeu aos militantes do partido o apelido jocoso de "esquerda festiva".
Neste 2017, não haverá festa. Segundo integrantes da cúpula partidária, a decisão faz parte de um pacote de contenção de despesas que incluiu até demissão de funcionários. No comando do partido, prevaleceu o argumento de que, usualmente, as instituições celebram seus aniversários apenas em "datas redondas", aquelas terminadas em zero ou cinco.
E, diferentemente de 2016, quando o PT comemorou seu 36 aniversário no Rio de Janeiro – com a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e um show do sambista Diogo Nogueira–, neste ano, o partido limitou-se a discretos eventos locais, como o organizado pelo diretório municipal de São Paulo do Sindicato dos Químicos, no bairro da Liberdade.
Num auditório arejado por ventiladores de parede, o presidente nacional do partido, Rui Falcão, discursou para pouco mais de 300 pessoas.
Recuperando-se de uma gripe, Falcão propôs "ações diretas de mobilização". Afirmou ser "importante atacar a base dos deputados".
"Chega de fazer militância pela internet", afirmou ele, diante de uma plateia ruidosa.
O líder do PT na Câmara, Carlos Zarattini, reforçou o lema de que "nada substitui a militância direta". Minutos depois, o presidente municipal do partido, Paulo Fiorilo, convidou os participantes a comer um bolo.
Os líderes nacionais do partido se manifestaram pelas redes sociais. Lula exibiu em sua página oficial o discurso realizado um ano antes, no Rio.
"O PT nasceu em 1980, para dar voz àqueles que nunca tiveram espaço na política brasileira. E, nas últimas três décadas, conseguiu cumprir seu objetivo, embora muitos queiram negar os avanços pelos quais o Brasil passou na era de Dilma e Lula. O PT não é o partido de uma só pessoa", publicou.
A ex-presidente Dilma Rousseff – que participou da celebração dos 34 anos do partido às vésperas de sua campanha pela reeleição– divulgou na rede uma nota em que chama de recuo histórico "o retrocesso imposto pelo golpe".
"Ainda há muito o que lutar e o PT, tendo Lula à frente, ainda tem muito a fazer pelo Brasil", publicou.
Postar um comentário