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O placar mais elástico do que o previsto na votação que aprovou, por 367 a 137 votos na Câmara dos Deputados, a admissibilidade do relatório que pede o afastamento da presidente Dilma Rousseff para que ela seja julgada em processo de impeachment elevou a pressão sobre o governo no round final do Senado. A casa é o último pilar político em que o governo pode reverter o processo que pode tornar a petista ré e permitir que o vice Michel Temer assuma o comando do país interinamente por até 180 dias.

Para o cientista político e professor do GEP (Departamento de Gestão Pública) da FGV-SP Marco Antônio Teixeira, o cenário está muito negativo para o governo e as chances de recuperação são baixas neste momento. "É praticamente impossível o Senado reverter a decisão", disse o professor. Para barrar o processo de impeachment, a presidente precisa conquistar mais da metade dos votos na casa - o que, em tese, indicaria uma missão mais difícil do que a do 1/3 não conquistado na Câmara.

"Apesar de os senadores não terem envolvimento direto nas eleições municipais deste ano, haverá eleições para dois terços deles em breve [o que manteria certo nível de pressão das bases sobre os parlamentares, embora menor do que no caso dos deputados]. O processo já está razoavelmente definido. Só uma hecatombe pode promover alguma alteração", disse Teixeira.

O pessimismo do professor vai de encontro com as esperanças do deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), que acredita que um debate mais qualificado no Senado e a condução mais equilibrada de Renan Calheiros (PMDB-AL) possam ajudar o governo. Na avaliação do parlamentar, que foi ministro do Esporte em parte das gestões de Lula e Dilma, os membros dessa casa seriam mais serenos e experientes para examinar o mérito da questão -- o que, na sua percepção, ficou de fora na Câmara.

Pela menor quantidade de membros no Senado (81), Teixeira acredita na tendência de mais tempo para um debate de maior qualificação, mas pondera que é preciso avaliar até que ponto os atores estariam dispostos a promovê-lo. "O isolamento do governo chegou a tal ponto que precisaria de boa vontade para discutir a questão técnica", observou. Também mereceriam ressalvas os apontamentos de que Calheiros jogaria como um cego aliado ao governo. O professor lembra que o presidente do Senado, assim como Eduardo Cunha (PMDB-RJ) na Câmara, é alvo de investigações e processos.

Quando questionado sobre a possibilidade de o governo promover novas ofensivas no Supremo Tribunal Federal - desta vez, na questão do mérito do processo de impeachment -, Teixeira minimizou as chances. "A questão é política. O Supremo, em face ao apelo, tem muita dificuldade de intervir internamente", afirmou. O cientista político, porém, lembrou que o elevado nível de rejeição de Temer (comparável ao de Dilma) ainda pode ser um fator a embaralhar as cartas na corrida pelo poder.



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