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A presidente Dilma Rousseff mencionou a crise brasileira nesta sexta-feira (22) em discurso na sede das Nações Unidas, mas passou longe das previsões de que iria usar a tribuna para denunciar abertamente seus adversários na disputa do impeachment.

A palavra "golpe", que vem sendo alardeada na narrativa governista, ficou de fora. Dilma se limitou a falar rapidamente que tem esperança de que o povo brasileiro impeça "qualquer retrocesso".

Segundo o cientista político alemão Oliver Stuenkel, professor de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o Planalto acabou entendendo que havia riscos na iniciativa de usar a conferência sobre o Pacto de Paris para falar de política interna.

"Acabou sendo um discurso suave. O governo deve ter calculado que esse não seria um fórum adequado para falar de política interna. Um diplomata americano me disse que seria fora de lugar", afirmou. "Por causa do seu impacto, os acordos da conferência vão estar nos livros de história no futuro. Havia mais riscos do que vantagens em abordar o impeachment. No final, ela só tentou demonstrar que ainda é a chefe de Estado."

A presidente, no entanto, ainda pretende falar com jornalistas estrangeiros sobre o assunto. Uma coletiva de imprensa está prevista em Nova York. A rede CNN também deve gravar uma entrevista com a líder brasileira na semana que vem.

Com ou sem discurso incendiário, a ofensiva internacional de Dilma para denunciar o impeachment já provocou uma reação: o vice-presidente, Michel Temer, foi levado a reagir à mandatária na mesma arena e concedeu uma série de entrevistas a jornalistas estrangeiros.

Nos últimos dois dias, o peemedebista falou ao New York Times , ao Financial Times e ao Wall Street Journal e, em todos os casos, rechaçou a ideia de que Dilma foi vítima de um "golpe" por parte do Congresso.

"A oposição e o grupo de Michel Temer ficaram preocupados. Eles precisam mostrar que são um governo viável e afastar o temor sobre a fragilidade dos seus projetos", afirmou Stuenkel.

"Continuo acreditando que essa estratégia não vai render ganhos para a manutenção do mandato de Dilma, mas isso sinaliza que ela não vai se calar. Ela pode se tornar uma figura irritante para um governo Temer, usando até o período de afastamento para desgastar o presidente interino e ajudar Lula a preparar o terreno para voltar nas próximas eleições", disse.

Briga interna no exterior
O suspense provocado pelo discurso de Dilma levantou uma série de questões sobre a legitimidade de levar uma briga interna para o palco internacional. Setores da oposição reclamaram. Três ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) também criticaram Dilma e afirmaram que o processo de impeachment tem seguido as regras.

Rubens Barbosa, que serviu como embaixador em Washington entre 1999 e 2004 e é ligado ao PSDB, afirmou à DW considerar "lamentável" a estratégia internacional do governo.

"Não se trata de uma oposição criticando o governo, mas de um governo criticando o seu próprio país. Dilma e o PT estão prestando um desserviço para a imagem brasileira no exterior. Eles podem não concordar com o impeachment, mas sabem que não houve golpe. A própria Dilma é contraditória. Falou no discurso [na ONU] que a democracia brasileira é pujante, mas ainda assim insiste na tese do golpe", afirmou Barbosa. "Ela só está fazendo isso com objetivo de criar uma narrativa para quando o PT se tornar oposição."

Já para Samuel Pinheiro Guimarães, que serviu como secretário-geral das Relações Exteriores e ministro-chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos durante o governo Lula, Dilma está correta em usar o palco internacional para denunciar o impeachment. "Esse é um movimento de retrocesso e um golpe. Ela não pode ficar sem reagir. Se alguém é assaltado em sua casa, não pode gritar na rua sobre o que aconteceu? As democracias europeias e os EUA têm que ser levados a se pronunciar sobre o que está acontecendo", afirmou à DW.



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