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Os investigadores da Lava Jato afirmam que a propina com origem em uma obra da Petrobras no Rio financiou uma escola de samba, blog e familiares do ex-tesoureiro do PT Paulo Ferreira.
O petista, que está preso desde a semana passada, é o principal alvo da 31ª fase da operação, deflagrada nesta segunda-feira (4). Ele foi tesoureiro do PT entre 2005 e 2010, antecedendo João Vaccari Neto, e atualmente é suplente de deputado federal no Rio Grande do Sul.

Segundo a investigação, o petista e seus aliados receberam R$ 1 milhão da obra de reforma do Cenpes (Centro de Pesquisas da Petrobras), no Rio de Janeiro.

Entre os destinatários dos repasses está a Sociedade Recreativa e Beneficente Estado Maior da Restinga, uma escola de samba de Porto Alegre, e a madrinha da bateria Viviane da Silva Rodrigues.
Foram identificados pagamentos de R$ 45 mil à agremiação e outros R$ 61,7 mil a Viviane, em repasses feitos entre 2010 e 2012, segundo a força-tarefa.

"Chamou a atenção pela forma como se busca apoio político no Brasil e como o dinheiro impacta na formação do nosso Congresso e da classe política", destacou o procurador da República Roberson Pozzobon, durante entrevista coletiva. "São apoios por vezes não muito republicanos."

O juiz Sergio Moro, na decisão que determinou a prisão preventiva de Ferreira, destacou a "longa vida política" do ex-tesoureiro, que foi deputado federal entre 2012 e 2014, e o risco de que ele volte ao Congresso, por ser suplente.

"Inaceitável que agentes políticos em relação aos quais existam graves indícios de envolvimento em crimes contra a Administração Pública e lavagem de dinheiro permaneçam na vida pública sem consequências", escreveu Moro.

RASTRO DO DINHEIRO
A informação sobre o destino do dinheiro, de acordo com a investigação, partiu do acordo de colaboração premiada do ex-vereador Alexandre Romano (PT), que chegou a ser detido na Lava Jato no ano passado.

Segundo o Ministério Público Federal, Romano funcionava como uma espécie de "caixa" para Ferreira. O advogado firmava contratos de fachada ou superfaturados com empreiteiras de quem o ex-tesoureiro afirmava ter "créditos a receber" e depois repassava os valores segundo o seu pedido.

"Ele recebia as ordens do Ferreira. 'Repasse tanto para aquela escola de samba, deposite tanto na conta do meu familiar, repasse para aquele fulano que me apoia'", explicou o procurador Pozzobon.

Os repasses teriam sido feitos por meio da Oliveira Romano Sociedade de Advogados, da Link Consultoria Empresarial e da Avant Investimentos e Participações –todas de Alexandre Romano.

"Ele [Ferreira] buscava apoio político nas mais variadas frentes", comentou o procurador. "Não eram pagamentos que revertiam às contas do partido exclusivamente, mas havia benefícios pessoais." Parentes e pessoas ligadas ao ex-tesoureiro também receberam parte das transferências.

ESCOLA DE SAMBA
A Estado Maior da Restinga foi fundada em 1977 e foi bicampeã do Carnaval porto-alegrense em 2011 e 2012 – anos em que foram identificados repasses do esquema à escola, segundo a investigação da Lava Jato.

Viviane Rodrigues, 37, é madrinha de bateria da escola há 13 anos. Também foi rainha de bateria da escola Acadêmicos de Tatuapé, de São Paulo, em 2012. Em 2013, ela concorreu ao posto de Musa do Carnaval, um quadro do programa de televisão "Caldeirão do Hulk", na Globo.

Viviane chama os "afilhados" (os ritmistas da escola) de "tinguerreiros", uma referência ao termo "Tinga", um apelido do bairro Restinga. A madrinha chegou a apresentar um programa de televisão sobre Carnaval em um canal comunitário de Porto Alegre.

Ela é apontada pelo Ministério Público Federal como amiga de Paulo Ferreira – tido como um grande apoiador da escola de samba.

A bateria da agremiação chegou a participar da festa de aniversário de 53 anos do ex-deputado, em 2012. Na ocasião, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu (PT) estava presente.

"Sou grato à Tereza [Campello] e ao Ferreira, aquela gratidão que não tem limites. No momento que mais precisei sempre estiveram no meu lado. Não apenas no lado político, que nem sempre é o mais importante de nossa vidas. Mas aquele afeto, aquele carinho, a mão estendida quando mais precisamos", disse Dirceu no seu discurso para Ferreira.

"Tenho orgulho de dizer que temos um representante na esfera federal, que é esse parceiro Paulo Ferreira", declarou na época o então presidente da agremiação, Robson Dias. "Uma pessoa totalmente envolvida com a cultura popular, com o Carnaval do Estado."

Paulo Ferreira chegou a ser homenageado por outra escola de samba, a Praiana. O samba-enredo deste ano é uma homenagem ao político. A letra da música diz: "A figura de um povo, um ser especial/ Paulo Ferreira hoje é Carnaval". Em outro trecho, a letra da música diz "A história de um menino sonhador/ [...] O líder das raízes ancestrais/ Tendo como pano de fundo/ a cultura e os movimentos sociais".



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