Sob a lupa do TCU e motivo de sete inquéritos abertos pela Polícia Federal, Ferrovia Norte-Sul indica superfaturamento que pode chegar a R$ 1 bilhão
Em julho passado a Polícia Federal chamou para depor e prendeu o ex-presidente da Valec, José Francisco das Neves, o Juquinha. A acusação: enriquecimento ilícito. Segundo investigações da Operação Trem Pagador, o ex-presidente comandava – sob a tutela de políticos influentes e aliados ao Planalto – um esquema que, comprovadamente até agora, desviou mais de R$ 430 milhões de obras da Ferrovia Norte-Sul, a mais extensa via férrea do País, iniciada há três décadas, mas que até agora só tem trazido dissabores e falsas promessas aos que dela poderiam se valer para escoar sua produção.
Em inauguração de trecho da Norte-Sul, Lula e Sarney posam como patriotas... ferrovia que custa a sair do papel há três décadas já consumiu R$ 8 bilhões dos cofres públicos e superfaturamento em obras pode chegar a R$ 1 bilhão, segundo levantamentos do TCU e da Polícia Federal
O rombo, segundo apontamentos prévios da Polícia Federal, pode atingir a escandalosa quantia de R$ 1 bilhão. O dinheiro, apontam as investigações, servia para alimentar não somente as contas pessoais de Juquinha, de ex-integrantes da cúpula da Valec, mas – de maneira mais generosa – o caixa de partidos como PR e do PMDB, aliados ao PT e a Dilma Roussef. A Polícia Federal chegou a este valor fazendo cruzamento de valores presentes nos sete inquéritos referentes às obras dos quase 4,5 mil quilômetros da ferrovia, que já levou R$ 8 bilhões dos cofres nacionais.
Entre as acusações que compõem o vultoso rombo existem indícios de superfaturamento em materiais, execução de terraplanagem, escavações e aterros. Para que isso fosse possível houve pacto velado entre empreiteiras, vício nas licitações e subcontratação de empresas ligadas a políticos aliados ao governo.
A Polícia Federal declarou à imprensa que, somente no trecho que liga Palmas-TO e Anápolis-GO, já se comprova o desvio de mais de R$ 400 milhões. Entre as empreiteiras citadas estão antigas conhecidas da justiça brasileira: Andrade Gutierrez, SPA Engenharia, Constram, Queiroz Galvão e Camargo Corrêa. Estas empresas, mesmo havendo recebido aditivos que chegaram a 25% do valor inicial da obra por parte da Valec, entregaram-na cheia de problemas técnicos, alguns muito graves, como a falta de proteção vegetal e canais de drenagem superficial em muitos trechos, o que resulta em erosão, consequente desestabilização dos trilhos e descarrilamentos. Além disso, a construção dos oito pátios intermodais (portos secos) previstos em contrato ainda não saíram do papel. Sem estes pátios a ferrovia vira um elefante branco, pois os caminhões que fazem o transporte regional não têm onde estacionar para fazer a carga e descarga dos vagões.
Ex-diretores da Valec, estatal do transporte ferroviário no Brasil, usavam as obras da ferrovia para desviar dinheiro para as próprias contas e para partidos aliados à presidência da república, como PR e PMDB
Observando-se as queixas das construtoras foi possível ao TCU e à Polícia Federal constatar outro fator preocupante: a tecnologia e os métodos de construção aplicados à Norte-Sul são exatamente os mesmos há quatro décadas, o que serve de justificativa para aumentar ainda mais os custos da obra.
O QUARTEL-GENERAL DO ROUBO – Todo o esquema de superfaturamento, favorecimento político, patrimonialização da máquina pública e apadrinhamento ocorriam em Brasília, no 20º andar do edifício-sede Valec, no gabinete do então presidente, Juquinha.
O QUE O TCU JÁ DESCOBRIU? – O TCU já descobriu que nas obras de Aguiarnópolis-TO e no trecho Anápolis-Uruaçu (Goiás) existe uma série de irregularidades. Em ambos os casos o Tribunal mandou suspender parte do pagamento dos valores contratados. Neste caso em especial uma das empresas envolvidas (a SPA Engenharia) já declarou recusa às determinações de revisão orçamentária.
ESCUTAS – A mão política por trás do caso pode se comprovar através de escutas telefônicas instaladas pela Polícia Federal com autorização da Justiça. Uma delas é do dia 19 de outubro de 2011. Nela, Juquinha, sabendo da descoberta das falcatruas na Valec, conversa com seu advogado, Heli Dourado, e pergunta do posicionamento do “presidente” (referindo-se ao senador José Sarney – PMDB). Em resposta Heli diz: “Sarney conversou com o ministro [dos transportes] duas vezes e não tem mais o que falar com ele; que ele sabe que a pessoa é sua indicada”, mas que Sarney pouco pode fazer, pois as indicações do Palácio do Planalto são de afastar toda a diretoria da Valec para evitar desgaste político perto das eleições.
Sarney (PMDB) e Costa Neto (PR), aliados de Dilma Roussef (PT), eram responsáveis por distribuir os cargos aos seus apadrinhados na Valec durante o período investigado pelo TCU e pela PF. Rombo comprovado até agora passa dos R$ 430 milhões
Um dos delegados que participa das investigações disse à imprensa que o senador Saney e o deputado mensaleiro Valdemar da Costa Neto-PR, eram os que coordenavam a divisão dos cargos na Valec. O principal nome de Sarney dentro da Valec e um dos maiores alvos de investigação até agora é o de Luiz Carlos Oliveira Machado, diretor de engenharia da estatal. Pelo que se sabe até o momento, Machado tem ligações com empresas como a CMT Norte-SUL e Trilha Engenharia, subcontratadas nos lotes 2 e 11 para fornecer maquinário e patrocinadoras das campanhas políticas da família Sarney e seus aliados. Em nota, tanto Sarney quanto Costa Neto negaram as acusações.
SARNEY, CORONEL DA NORTE-SUL – O nome de Sarney já apareceu diversas vezes ligado a suspeitas e a denuncias de irregularidades na construção da Ferrovia Norte-Sul. Em um dos casos seu filho, Fernando Sarney, é investigado por conta de contratos suspeitos entre a Valec e a Dismaf para o fornecimento de trilhos. A empresa, mesmo depois de denunciada pelo Ministério Público por fraude em outra licitação, assinou contrato com a Valec por intermédio do senador Gim Argello – PTB-DF e Fernando Sarney. Outro gancho da denúncia é Basile Pantazis, sócio da Dismaf e, até ano passado, tesoureiro do PTB. Segundo a ONG Contas Abertas a Valec pagou à Dismaf, em três anos (2008 – 2011) mais de R$ 410 milhões, e ainda conseguiria outros R$ 750 milhões, não fosse o TCU determinar a suspensão imediata de outra licitação com indícios de vício.
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ESTADÃO – TCU aponta superfaturamento em trechos da Ferrovia Norte-Sul - http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,tcu-apura-superfaturamento-em-trechos-da-ferrovia-norte-sul-imp-,1531042
Canal G1 - Após 25 anos, trecho da Ferrovia Norte-Sul será inaugurado em Goiás - http://g1.glob
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