Em entrevista à em Lisboa, um dos destinos de uma viagem de uma semana pela Europa para "denunciar o que está acontecendo no Brasil", Wyllys não deixa de apontar os erros de Dilma, mas defende enfaticamente que a destituição foi um golpe das elites brasileiras.
"Se queremos ser coerentes, as forças de esquerda portuguesas que se uniram para garantir o governo (de António Costa) deveriam pressioná-lo a não reconhecer o governo Temer, que é um governo golpista, o governo de um traidor, alguém que humilhou a Nação ao caçar 54 milhões de votos", afirma.
Questionado sobre o que será da esquerda nesse momento, o deputado alega que não pode dizer "de maneira tão clara quais são as perspectivas porque as esquerdas no Brasil são plurais". "De maneira geral, diria que a perspectiva é enfrentar o governo Temer, não reconhecer, não dar legitimidade e fazer uma oposição ferrenha", defende. Ao mesmo tempo em que prega a união das esquerdas, o deputado acredita que o PT não tem condições de liderar esse movimento e "tem que ceder agora às novas forças políticas em torno das quais se pode construir um consenso".
"Creio que nesse momento o PT não tem as condições para ser protagonista. Acho que muito mais o MTST, que é o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, o movimento LGBT, o próprio PSOL, tem mais condições de produzir esse consenso do que o PT. O PT nesse momento deveria estar fazendo uma autocrítica, lambendo suas feridas e identificando quais foram os seus erros nessa coligação com a direita brasileira nos seus últimos governos", diz.
Jean cobrou "autocrítica" por parte do Partido dos Trabalhadores (PT) em vários momentos da entrevista e justificou que o partido "deve isso às esquerdas, deve isso a ele mesmo, à história do partido". Ele afirma que o momento pede que as forças progressistas do Brasil deem "prioridade às suas convergências e não às suas divergências".
O deputado rechaça com veemência qualquer responsabilidade de seu partido no enfraquecimento do governo Dilma. Para ele, é injusto apontar que a oposição feita pelo PSOL contribuiu para a queda da petista. Ele defende que seu partido não errou na oposição, pelo contrário, sempre teve uma postura coerente e responsável. Aborrecido com o questionamento, que chamou de "injusto", "acusatório" e "piada", o deputado responde que quem errou foi Dilma ao "confiar demais nas forças reacionárias e conservadoras que compunham o governo dela".
"Foi o PT que cedeu às pressões das forças conservadoras, reacionárias e de direita que compunham os seus governos. As esquerdas, fora o PT, têm todo o direito de se colocarem em uma posição crítica porque se chegamos aonde chegamos, foi justamente porque o PT acreditou numa conciliação entre classes que todos nós da esquerda achávamos que não era possível", argumenta.
Provocado se seria o momento de os partidos de esquerda abandonarem velhos ranços e se unirem na oposição ao governo de Temer, Jean demonstra irritação e alega que "se tem uma responsabilidade na desunião das esquerdas é do PT, que ao invés de fazer um governo inclinado à esquerda, fez um governo inclinado à direta".
"O PMDB é um partido de corruptos, todos sabíamos disso, entretanto o PT fez coligação com o PMDB em todos os seus governos. Se há um erro aí, foi do PT, que foi, no mínimo, ingênuo em relação ao PMDB. Culpar o PSOL, achar que o PSOL tem responsabilidade na queda da Dilma é uma piada porque o PSOL fez uma oposição coerente, responsável com seu programa, com sua história, com as políticas que propõe para o país. Isso não é ajudar a derrubar o governo, isso é fazer uma oposição responsável", afirma.
Na entrevista, Jean Wyllys explica como foi acompanhar o final do processo de impeachment de longe, defende que estar fora foi até mais útil porque aproveitou para ser uma voz para denunciar o golpe no exterior, conta o que ouviu dos portugueses com relação ao golpe no Brasil, comenta a recente decisão do STF que rejeitou denúncia contra ele por ter chamado Eduardo Cunha de ladrão e expressa forte preocupação com retrocessos na pauta LGBT durante o governo de Temer.
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