O passo a passo das operações é complexo, mas fez com que Garcia se tornasse dono de uma fatia de Ralf que já havia expirado anteriormente. A empresa de Garcia (LFA Assessoria Esportiva) reclamou ("de boca", sem entrar na Justiça) ter parte dos direitos econômicos do jogador. A origem desse acordo, até então desconhecida, é que viraria um negócio valioso para o empresário.
Quatro anos depois, com outro acordo, ele recebeu porcentagens referentes aos jovens e promissores Guilherme Arana, Matheus Pereira e Malcom. Só na venda recente desse último ao Bordeaux-FRA, o empresário recebeu mais de R$ 6 milhões. É provável que os lucros cresçam com transferências futuras dos outros.
Fernando Garcia e seu irmão Paulo, ativo na política corintiana, foram os principais financiadores da campanha de Andrés para deputado federal em 2014. Através da Kalunga Comércio e Indústria Gráfica Ltda. e da Spiral do Brasil Ltda, duas empresas em que são sócios, os dois fizeram 182 doações e cederam R$ 601.453,62 de um total de R$ 2.134.926,67 angariados pelo então candidato, eleito pelo PT. Paulo Garcia ainda doou mais R$ 80 mil para campanha de Andrés como pessoa física.
À reportagem, Andrés declarou que "ninguém ligado a LFA ou o proprietário desta empresa fez qualquer doação a minha campanha para deputado federal". Em pesquisa na Junta Comercial de São Paulo, o nome do empresário Fernando Garcia consta entre os sócios da Kalunga Comércio e Indústria Gráfica Ltda. e Spiral do Brasil Ltda., empresas que realizaram doações.
Entenda tudo em nove passos:
1 – Garcia possuía 20% de Ralf antes de ida para o CorinthiansUm acordo que expirava em maio de 2009 foi assinado para a transferência de Ralf para o Grêmio Barueri. Nesse contrato, os direitos estavam repartidos entre GP Sports, dos empresários do volante (40%), Ralf (40%) e LFA Assessoria Esportiva, empresa de Garcia (20%). Fernando era ligado ao Noroeste, clube anterior do volante.
2 – Ralf e empresários excluem Garcia em novo contrato
No acordo seguinte firmado com o Barueri, que durava de maio até dezembro de 2009, a LFA Assessoria Esportiva foi excluída por opção do atleta e de seus empresários da GP Sports na divisão de direitos econômicos. Embora não tivesse mais direito legal sobre o atleta, Garcia se considerou prejudicado. Alegou ter feito investimentos no jogador que se transferiria para o Corinthians em janeiro de 2010.
3 – Corinthians propõe acerto com Fernando Garcia
Apesar de Garcia não ter mais qualquer direito jurídico por Ralf (ver abaixo), o então presidente Andrés Sanchez propôs um acordo entre GP Sports e LFA. Nos documentos aos quais a reportagem teve acesso, pois integravam um processo da GP Sports contra o Corinthians, esse acordo é justificado por "evitar litígios".
4 - Ralf e seus empresários repassam 7,5% para Garcia para receber luvas
No acordo, a GP Sports aceitou conceder 3,75% de direitos econômicos a Fernando Garcia, assim fez também o volante Ralf, com a garantia de que receberiam do Corinthians o pagamento das luvas pela contratação do jogador, que estava atrasada havia cinco meses.
5 - Corinthians, por vontade própria, repassa mais 7,5%
No mesmo acordo, o próprio Andrés, por vontade própria, repassou mais 7,5% do clube a Garcia. Assim, o contrato de Ralf passou a ter quatro donos: Corinthians (52,5%), GP Sports (16,25%), Ralf (16,25%) e LFA Assessoria Esportiva (15%).
6 – Corinthians cobre oferta do exterior e estipula valor de Ralf
Em meio à disputa da Copa Libertadores de 2012, Ralf teve proposta da Fiorentina e, para ficar com ele, o Corinthians resolveu cobrir a oferta e pagar para todos os sócios. Para isso, adquiriu as parcelas do jogador e da GP Sports por aproximadamente R$ 2,4 milhões cada. A empresa de Fernando Garcia também passou a ter direito, naturalmente, sobre cerca de R$ 2,1 milhões. Essa quantia, porém, não foi paga pelo clube ao longo da presidência de Mário Gobbi. Nem para Garcia, nem a GP Sports e nem ao atleta.
7 – 15% de Ralf se tornam um negócio milionário
Em 2014, após recomendação feita por Andrés a Gobbi, Garcia realizou um acordo que fez aqueles antigos 15% de Ralf se transformarem em um novo negócio. A dívida, atualizada após dois anos, foi cotada em R$ 2,8 milhões. Como o Corinthians não pagou, Garcia então recebeu 40% dos direitos de Malcom e 30% dos direitos de Guilherme Arana, ambos já membros do elenco principal, e 30% de Matheus Pereira, maior promessa da base.
8 – Garcia e sócios viram donos majoritários das maiores promessas do clube
Representante dos três jogadores desde que eram adolescentes nas divisões de base do Corinthians, Garcia e seus sócios (Guilherme Miranda, Thiago Ferro e Nílson Moura) também tinham comprado 30% dos direitos econômicos de cada um dos três atletas, ao completarem 16 anos. As porcentagens foram cedidas pela direção corintiana a Guilherme Arana, Matheus Pereira e Malcom no primeiro contrato profissional, como luvas, e imediatamente vendidas por eles aos mesmos empresários.
9 - Garcia já faturou com Malcom e pode ganhar muito mais
Na prática, após o acordo feito em 2014, os 15% de Ralf cedidos a Fernando Garcia se transformaram hoje em um ativo milionário. A venda recente de Malcom ao Bordeaux, por exemplo, valeu aproximadamente R$ 8,8 milhões só para Garcia. O empresário tem tudo para lucrar ainda mais em futuro próximo. Guilherme Arana é favorito a se transferir à Europa e o Corinthians já conversa pela cessão de Matheus Pereira para a Itália.
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