Sexta-feira, 15 de novembro de 2013. José Dirceu, José Genoino e outros petistas iam presos pelo escândalo do mensalão. O Brasil fervia. Mas uma estrela do PT estava serena. O então ministro Fernando Pimentel, amigo próximo da presidente Dilma Rousseff e hoje governador de Minas Gerais, tirava uns dias de folga do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio.
Às 9h55, Pimentel e sua namorada, Carolina Oliveira, decolavam do hangar de Brasília com destino à Bahia. O jatinho era do empresário Benedito Oliveira Neto, o Bené, amigo de Pimentel e suspeito de lavagem de dinheiro. Enquanto petistas históricos iam presos, Pimentel ia com a namorada para o Kiaroa Resort, na Península de Maraú, ao sul de Salvador. O bangalô master do resort era um luxo. Duas piscinas privativas, enxoval de algodão egípcio e travesseiros de pluma de ganso. No feriadão, o casal comprou boné, tomou cinco caipiroskas com vodca Absolut, comeu dois pratos de camarão à provençal, duas tapiocas, moqueca e mandioca frita. O weekend custou R$ 12.127,50.
Bené pagou. A nota fiscal é apenas uma das fartas provas obtidas pela Polícia Federal, no âmbito da Operação Acrônimo, que coloca Pimentel no topo da cadeia de comando de um esquema que envolve contratos públicos, consultorias de fachada – e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, o BNDES.
Antes de destrinchar o material da Acrônimo, vale pairar sobre os 12 anos anteriores do PT no poder. É possível identificar um modus operandi em todos os escândalos protagonizados pelo partido no governo. Ele começa pelo aparelhamento do Estado para alavancar negócios com empresas privadas. A Acrônimo mostra isso. A Lava Jato também. Ambas apontam claramente que o BNDES e a Petrobras respectivamente, pela enormidade de seus recursos, se transformaram nas fontes preferidas de quem busca lucro fácil a partir do desvio de dinheiro público – seja para campanhas eleitorais, seja para melhorar sua condição econômica a partir da atividade política.
O surgimento do BNDES no âmbito da Acrônimo tornou a operação um clone da Lava Jato – ainda que, por enquanto, em menor escala. Um bilhete de Marcelo Odebrecht, presidente da empreiteira que leva seu sobrenome, foi interceptado por policiais federais que o vigiam na carceragem de Curitiba. Mesmo com sua letra difícil, os agentes entenderam que ele escrevera “destruir e-mail sondas”. Parecia uma instrução a seus advogados para apagar uma troca de mensagens, na qual se tratava de “sobrepreço” nas negociações de um contrato para operar sondas a serem construídas pela Sete Brasil – uma jabuticaba empresarial criada pela união da Petrobras com fundos de pensão, bancos privados e o próprio BNDES com a missão de fornecer equipamentos para a Petrobras explorar o pré-sal. Os advogados de Odebrecht negam que ele tivesse dado instruções para destruir evidências.
A simbiose que gerou a Sete Brasil, forjada com políticos crentes na intervenção econômica do Estado e com empresas “parceiras”, só fica completa com o aparelhamento partidário do governo. É ele que garante a liberação de farto dinheiro público. Marcelo Odebrecht está na cadeia pela suspeita de que sua empresa faz parte de um cartel que operou na Petrobras. Para ganhar contratos, suspeita a PF, ele pagaria propina a diretores indicados por políticos do PT, PMDB e PP. A Odebrecht foi a principal contratante dos serviços do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como lobista, para atuar em busca de obras – financiadas pelo BNDES – em países da África e da América Central. A empresa de Marcelo é a maior beneficiária de financiamentos do BNDES para realização dessas obras no exterior.
Feito esse voo panorâmico, volta-se a Pimentel. O feriado que Pimentel passou na Bahia com a namorada é uma amostra do esquema que a Polícia Federal desbaratou depois de uma batida pegar Bené e outros empresários com R$ 113 mil em um avião. Bené é apenas um intermediário. Nas palavras de um investigador, ele tem tudo para ser um “Marcos Valério de estimação”. O centro da Operação Acrônimo é Fernando Pimentel e o principal foco é o BNDES.
A PF descobriu que Carolina Oliveira mantinha uma empresa com apenas um funcionário e, mesmo assim, fez fortuna. Em comum, todos os clientes de Carolina Oliveira têm negócios diretos ou indiretos com o BNDES, banco subordinado ao Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio, que seu marido, Pimentel, chefiava. Segundo a PF, o casal pode ser enquadrado em três crimes: corrupção passiva, participação em organização criminosa e lavagem de capitais.
“O atual governador Fernando Pimentel, enquanto ocupou o cargo de ministro e em razão daquela condição, recebeu vantagem financeira indevida, no valor de R$ 299.882,05, da Diálogo Ideias e Pepper Interativa, esta última pessoa jurídica que foi contratada e recebeu valores do BNDES, por meio de contratação simulada da empresa de titularidade da companheira de Fernando Pimentel”, diz um trecho do relatório da PF. A Pepper recebeu cerca de R$ 500 mil do BNDES entre 2013 e 2014. E deu para Carolina R$ 236.882,05 no mesmo período. A PF levantou a suspeita de que, na verdade, a mulher de Pimentel pode ser sócia oculta da Pepper, “condição esta que deveria ser escamoteada em razão do recebimento de valores pela Pepper do BNDES”.
No apartamento que o casal mantinha em Brasília, a PF descobriu uma tabela que trazia o nome de Carolina e seu número de celular – o que significava que a planilha havia sido escrita por uma terceira pessoa. O título era “Planilha de Acompanhamento dos Pagamentos”. O frigorífico Marfrig aparece com valores de R$ 595 mil, referentes a novembro de 2011 a abril de 2012. O grupo Casino, que controla a rede Pão de Açúcar, é marcado com R$ 362.868,20, entre abril e julho de 2012. Ambos tiveram negociações com o BNDES. “É razoável inferir-se que pode ter havido simulação de contratação da Oli Comunicação (empresa de Carolina) e pelo grupo Casino e pelo Marfrig, a fim de repassar valores, que, em última análise, poderiam ter como destinatário o então ministro”, escreveu a PF em seu relatório.
A Polícia Federal trabalha com duas hipóteses. A primeira delas é que Mafrig e Casino pagaram diretamente à mulher de Pimentel, como sugere a tabela. A segunda é que os pagamentos dessas empresas foram intermediados pelo consultor Mário Rosa. Depois de um início de carreira inexpressivo numa assessoria de imprensa em Brasília, onde ganhava pouco menos de R$ 5 mil, a jornalista Carolina de Oliveira Pereira assessorou Pimentel em sua campanha fracassada ao Senado, em 2010, e por mais dez meses no ministério. Eles começaram a namorar e, em 2011, com um salário na casa dos R$ 20 mil, ela deixou a assessoria, montou sua empresa, a Oli Comunicação, e passou a ganhar contratos. O consultor Mário Rosa foi um dos que contrataram a Oli. O salário que ele pagava a ela era de R$ 75 mil. O objeto do contrato entre Rosa e Carolina era uma abstração. “Prestação de serviços de acompanhamento de assessoria de imprensa e acompanhamento a ser efetuada, com base nas solicitações que lhe forem feitas.” Rosa disse que contratou Carolina Oliveira pela competência e experiência da jornalista.
A Polícia Federal investiga outra versão para a mesma história e suspeita que, no total, a empresa de Mário Rosa deu quase R$ 2,5 milhões a Carolina. Rosa mantinha uma sociedade com o empresário Bené. Só com suas empresas, Bené ganhou mais de R$ 500 milhões dos governos do PT, em serviços gráficos e eventos que são alvos de investigação por suspeita de superfaturamentos.
O relatório da Polícia Federal foi usado para pedir a segunda fase da Operação Acrônimo. Um dos alvos foi justamente a Pepper. A decisão do ministro do Superior Tribunal de Justiça Herman Benjamin, contudo, barrou os principais pedidos da PF: os investigadores queriam fazer buscas na casa e no gabinete de Pimentel, além de na Petrobras, no BNDES e na sede do PT de Minas.
A PF ainda descobriu indícios de caixa dois na campanha de Pimentel. A investigação descobriu que Bené acertou o pagamento de R$ 75 mil de dívidas que o PT de Minas tinha com um táxi-aéreo durante a eleição de 2014. Assim escreveu Bené ao dono do táxi-aéreo: “Veja a dívida do PT com Algar, estão me perturbando”. Só de santinhos foram 34 milhões, ao custo de R$ 362.312,25, impressos na gráfica de Bené e que não foram lançados na prestação de contas. Segundo o advogado do casal, Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, Carolina Oliveira prestou serviços a Mário Rosa e à Pepper no período em que já não prestava serviços ao BNDES ou ao ministério. Kakay diz ainda que a empresa dela fez um site para o instituto da Marfrig, por R$ 18 mil.
A Marfrig confirma essa operação e diz que não houve outros contratos. Kakay e o Casino afirmam que não houve negócio entre a empresa e Carolina Oliveira. “A PF fez uma confusão com uma planilha e ela foi analisada da forma mais conveniente para a acusação, que não reflete a realidade”, diz Kakay. Em nota, o BNDES negou ligação com o caso. “É evidente que o fato de uma empresa ter apoio financeiro do BNDES e contratar quaisquer outros serviços de terceiros não significa que haja relação entre os dois eventos.”
O advogado de Bené não quis comentar. Quando a operação foi realizada, Pimentel foi agressivo e falou em nome de Minas Gerais. “Todas as providências necessárias para assegurar o respeito ao direito individual, à legalidade e à autonomia federativa serão tomadas para coibir o abuso e a arbitrariedade na condução do inquérito policial. Resistiremos a qualquer tentativa de impor a Minas Gerais constrangimentos indevidos e antirrepublicanos.” O governador, contudo, não deu explicações sobre as suspeitas. Preferiu invocar a honra mineira e atacar a Polícia Federal.
A hora do PT prestar contas à sociedade cada vez mais se aproxima!
Se depois dessas manifestações ainda perdurar a cleptocracia de Lula,Dilma e seus asceclas,Ainda terá de ser feito um trabalho voluntarioso para mudar os rumos da nação!
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