Por mais de dois anos, o juiz Sergio Moro e uma força-tarefa de promotores e policiais em Curitiba têm seguido por quatro continentes o escândalo. Encontraram mais de R$ 6 bilhões em propinas e uma rede criminosa tão extensa a ponto de abalar os alicerces políticos e econômicos do Brasil. As consequências da investigação ajudaram a empurrar o País para sua pior recessão em um século.
Moro tem enfrentado também limites de jurisdição e críticas de que estaria indo longe demais no seu papel de juiz de primeira instância, atropelando o processo legal, incluindo divulgação de informações envolvendo pessoas com foro privilegiado.
Assim, Moro espera ter um número significativamente menor de novas operações sob seu comando a partir do próximo ano, segundo tem dito em conversas privadas. O juiz não quis dar entrevista.
Isso não significa que a Lava Jato vai se encerrar, mas sim que pode perder substancialmente intensidade e velocidade.
“Moro é um juiz de um caso só, além de extremamente capaz, muito disciplinado e eficiente”, disse Floriano Azevedo Marques, professor de Direito na Universidade de São Paulo. “É por isso que ele tem sido tão célere.”
A Polícia Federal e o Ministério Público dizem que a Lava Jato vai continuar independente de possíveis mudanças governo. Nos círculos jurídicos, no entanto, há uma sensação de que, quando Moro concluir sua investigação sobre a Petrobras - epicentro da Lava Jato - haverá desaceleração. O ritmo do STF, que lida com casos desde impeachment a maioridade penal, é, por essência, mais lento.
Marco Zero
Curitiba, antes conhecida como a capital verde do Brasil, hoje é o marco zero do escândalo de corrupção. Foi lá que a PF conectou pela primeira vez o doleiro Alberto Youssef com um executivo da Petrobras. Desde então, a equipe revelou um esquema de propina em que grandes construtoras fraudavam obras públicas, pagavam um pedágio em financiamento político e irrigavam contas de políticos e executivos na Suíça.
Embora a presidente não seja investigada, o escândalo ajudou a destruir sua base de sustentação política. Dilma agora enfrenta um processo de impeachment por alegações de uso de artifícios fiscais para mascarar o tamanho do déficit orçamentário.
Ao longo do caminho, Moro tornou-se um herói popular. O juiz foi eleito uma das 100 pessoas mais influentes da revista Time. Nas manifestações de março, Moro foi caracterizado como super-homem nos bonecos que manifestantes levaram às ruas - um contraste com os bonecos de Dilma e Lula em uniforme listrado de prisão.
Mas Moro conquistou inimigos também. Especialmente depois de divulgar a conversa telefônica gravada entre o ex-presidente Lula e a presidente Dilma que sugeriu que a mandatária nomearia Lula ministro para garantir-lhe foro no STF e protegê-lo da investigação em primeira instância.
Após a divulgação da transcrição, milhares de brasileiros saíram às ruas de São Paulo, Brasília e outras partes do País para protestar. Também houve reação por parte de políticos e advogados. O ministro do STF Marco Aurélio Mello, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, disse que Moro havia passado dos limites. A filial da OAB no Rio de Janeiro classificou o ato do juiz como ilegal.
Confronto em Brasília
Em Brasília, por sua vez, o confronto político que paralisou o governo Dilma está prestes a atingir o seu ponto crítico. Uma comissão especial do Congresso está analisando o pedido de afastamento da presidente. Se uma maioria simples dos senadores votar já na próxima semana que ela deve ir a julgamento, Dilma será afastada temporariamente.
Seu sucessor, o vice-presidente Michel Temer, já está montando sua equipe. Temer é citado na Lava Jato, mas nega envolvimento. Ele agrada investidores pela esperança de comprometimento com política fiscal e proposta liberal.
O fato de a investigação de Moro poder entrar numa nova fase é “muito boa notícia para Temer”, disse Christopher Garman, analista de Brasil na Eurasia, em Washington. Segundo ele, o maior risco para o governo Temer está nos próximos quatro a cinco meses. “Se você passar por esta fase, o risco para o governo de Temer começa a diminuir”.
Moro sempre contou com a opinião pública para desvelar o caso. Mas há sinais de cansaço da população. A recessão no Brasil segue para seu o segundo ano, o desemprego está aumentando e o grande déficit no orçamento leva a aumento de impostos e corte de gastos.
Há doze anos, Moro já demonstrava sua visão sobre a importância do apoio público num artigo sobre a operação italiana Mãos Limpas. O caso é frequentemente citado por ele como inspiração para a Lava Jato.
“Enquanto ela contar com o apoio da opinião pública, tem condições de avançar e apresentar bons
resultados”, disse. “Se isso não ocorrer, dificilmente encontrará êxito”.
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