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'Lula sabia que era propina' - Delação de Pedro Corrêa confirma tese de que petrolão e mensalão eram garantia de apoio político


A delação premiada do ex-deputado federal Pedro Corrêa (PP-PE) confirma a tese sustentada pela força-tarefa da operação Lava Jato de que os escândalos da Petrobras e do mensalão tiveram como origem uma sistemática única de corrupção para compra de apoio político para manutenção do poder com a participação direta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

“Lula tinha pleno conhecimento de que o mensalão não era ‘caixa 2’ de eleição, mas, sim, propina arrecadada junto aos órgãos governamentais para que os políticos mantivessem suas bases eleitorais e continuassem a integrar a base aliada do governo, votando as matérias de interesse do Executivo no Congresso Nacional”, disse Corrêa.

O trecho é parte do Anexo 4 da delação premiada de Corrêa, com o resumo do tema sobre “suposto envolvimento de Lula nos esquemas de corrupção”. Há um item específico sobre o mensalão – primeiro grande escândalo da era PT no governo federal. Após revelação do ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), descobriu-se que o então ministro da Casa Civil, José Dirceu, comandava a compra de parlamentares da base aliada em troca de apoio político.

Dirceu e Corrêa foram condenados no mensalão, em 2012, em processo final no Supremo Tribunal Federal (STF). Os dois foram presos em 2013 e acabaram novamente detidos e condenados no escândalo da Lava Jato. O juiz federal Sergio Moro aplicou a Dirceu a mais longa pena nesses dois anos de operação: 23 anos de reclusão.

Presença
Corrêa relata as reuniões em que participava do Conselho Político criado pelo petista, “nas quais sempre estavam presentes o presidente Lula, o ministro José Dirceu, o ministro Antonio Palocci e, depois, o ministro Aldo Rebello e os presidentes dos partidos da base aliada”.

Segundo o delator, que foi presidente do PP, nesses encontros “se discutiam os assuntos que seriam tratados no Congresso e as dificuldades de vários parlamentares dos partidos presentes”. “Muitas dessas dificuldades tratadas estavam umbilicalmente ligadas com o petrolão; por aquele tempo já havia arrecadação dentro das empresas e órgãos públicos, sobretudo dentro da Petrobras”.

Corrêa afirmou que, nos encontros com Lula e seus ministros do “conselhão”, os presidentes ou líderes dos partidos da base aliada “faziam queixas relacionadas às dificuldades que estavam tendo junto aos dirigentes indicados para os cargos federais do governo, os quais não estavam se empenhando em atender as reivindicações dos parlamentares”.

“O presidente Lula encarregava o ministro José Dirceu de fazer as cobranças sobre os dirigentes para que atendessem com mais presteza as solicitações dos partidos”, disse. “Em alguns setores as reivindicações eram de arrecadação de propina e, em outros, de interesses políticos, visando ao favorecimento dos Estados e municípios dos parlamentares”, continuou Corrêa.

Pena
Cassado em 2006 na Câmara, Corrêa foi deixado de quarentena, que terminou no ano em que foi deflagrada a Lava Jato. Depois de condenado e preso em 2013, o delator cumpria pena em regime semiaberto, em Pernambuco, quando foi detido em abril de 2015 – alvo da 11ª etapa da operação, denominada A Origem.

Para o juiz Sergio Moro, “a prova do recebimento de propina mesmo durante o processamento da Ação Penal 470 reforça os indícios de profissionalismo e habitualidade na prática do crime, recomendando, mais uma vez, a prisão para prevenir risco à ordem pública”.

“(Corrêa) é recorrente em escândalos políticos criminais e traiu seu mandato parlamentar e a confiança que a sociedade brasileira nele depositou”, escreveu Moro. “Nem o julgamento condenatório pela mais alta Corte do país representou fator inibidor da reiteração criminosa, embora em outro esquema ilícito”.

Revelações atingem vários políticos
Envolvidos
Em documentos que integram seu acordo de delação premiada, Pedro Corrêa também citou vários deputados, senadores, ministros, ex­ministros e ex­governadores, que estariam envolvidos em esquemas de corrupção, além de ter confessado que recebeu dinheiro desviado de mais de 20 órgãos ligados ao governo federal. As informações foram publicadas na sexta passada pela revista “Veja”.

Avanço Segundo a publicação, Corrêa relatou que parlamentares do PP se rebelaram com o avanço do PMDB sobre contratos da Diretoria de Abastecimento da Petrobras, na época em que a área era comandada por Paulo Roberto Costa Radar. Um grupo teria ido ao Planalto para falar com Lula e reclamar da “invasão”.

Radar
Outros alvos da Procuradoria no escândalo do mensalão estão no radar da Lava Jato. Entre eles, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares, o ex-secretário geral do partido Sílvio Pereira e o publicitário Marcos Valério. Delator afirma que Lula discutia pessoalmente esquema na PetrobrasNegócios da Petrobras teriam rendido pelo menos meio bilhão em propinaLula 'ameaçou' tirar cargos da base por taxação de inativos

Defesa diz que fala é uma ‘farsa histórica’
Em nota, o Instituto Lula destacou que o ex-deputado Pedro Corrêa já foi condenado pela prática de 72 crimes de corrupção. O instituto classifica de “farsa histórica” a delação do ex-parlamentar.

“Pedro Corrêa foi condenado pelo juiz Sergio Moro a mais de 20 anos de cadeia por ter praticado 72 crimes de corrupção e 328 operações de lavagem de dinheiro. Foi para não cumprir essa pena na cadeia que ele aceitou negociar com o Ministério Público Federal uma narrativa falsa envolvendo o ex-presidente Lula. É repugnante que promotores transcrevam uma farsa histórica em documento oficial e promovam seu vazamento, claramente direcionado a atingir a honra do ex-presidente Lula”, diz a entidade em nota.

“Estado de direito não comporta esse tipo de manipulação, insidiosa e covarde, nem por parte dos agentes públicos nem dos meios de comunicação que dela se aproveitam numa campanha de ódio e difamação contra o ex-presidente Lula”, continua o texto.

“O vazamento dessa farsa é mais uma evidência de que, após dois anos de investigação, a Lava Jato não encontrou um fiapo de prova ou sequer indício de participação de Lula nos desvios da Petrobras porque o ex-presidente sempre agiu dentro da lei”, finaliza a nota.



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